Na semana passada, participei de uma atividade no Instituto Ling em Porto Alegre, a "Degustação Orientada: Vinhos Naturais, com Vivá Vinhos". Não foi meu primeiro contato com os vinhos naturais; já estive em um evento grande da área chamado Feira Naturebas e já visitei uma pequena vinícola que se dedica à este segmento, a Faccin.
O assunto me interessa, pois a origem dos alimentos e o processo de produção dos mesmos me é muito caro. Como nutricionista, busco reforçar a importância de termos uma dieta baseada em comida in natura (hortaliças, frutas, carnes...) e minimamente processada (arroz, feijão, leite...) e com o ~mínimo possível~ de comida ultraprocessada (refrigerantes, embutidos convencionais, biscoitos recheados e afins). Além disso, estimulo a aquisição dos alimentos na versão orgânica. Este é o ideal.
Quanto ao vinho, pouco falamos sobre a contaminação das uvas por agrotóxicos e sobre a presença de (muitos) aditivos alimentares na bebida. Diferente do que acontece com a maioria dos alimentos, a legislação brasileira não exige que os produtores de vinho listem todos os aditivos utilizados no rótulo, mas a lista de aditivos permitidos passa de 140 itens. Chato, não?
Antes de parecer que eu estou incentivando o consumo de bebidas alcoólicas, quero deixar claro que:
(1) se você não consome bebida alcoólica, siga assim, o álcool é tóxico e ficar sem ele é algo bom. Você não precisa consumir 1 cálice/dia de vinho para ter mais saúde, você precisa ter uma dieta saudável;
(2) se você consome, faça isso com moderação. Há uma recomendação de limite máximo de ingestão para quem bebe que consiste em 1 dose/dia para mulheres e 2 doses/dia para homens [uma dose equivale à um cálice (140ml) de vinho]. Para uma recomendação de consumo mais personalizada (que considere sua individualidade, objetivos e preferências), consulte uma nutricionista;
(3) nenhum alimento/bebida de forma isolada determina a qualidade de uma dieta e o estado de saúde de uma pessoa. Ter uma dieta equilibrada com consumo consciente de vinho pode ser tão saudável quando ter uma dieta equilibrada sem consumo de vinho;
(4) consumo abusivo de álcool (ex: 4 doses de uma única vez para mulheres e 5 para homens) é algo ruim e alcoolismo é uma doença que precisa de tratamento.
Dito isto, a fim de consumir menos "vinhos ultraprocessados", busque pelos vinhos naturais, que se carcterizam por ser uva fermentada e só (sem aditivos, as vezes apenas um pouquinho de SO2). Eles podem - ou não - ser orgânicos ou biodinâmicos. Esta preferência faz sentido, pois os aditivos alimentares parecem contribuir para alterações negativas na microbiota intestinal humana, deixando o corpo mais suscetível ao aparecimento de diversas doenças (desde infecções até doenças metabólicas). Quanto menos aditivos alimentares na dieta, melhor!
Foto do evento
Voltando para o evento: degustamos 5 vinhos, sendo o meu preferido o vinho branco Traminer. Diferente da maioria dos vinhos naturais que já provei, que me remetiam ao sabor da kombucha (que eu adoro, mas ao degustar um vinho, não busco por isto), os da Vivá Vinhos Naturais tinham um sabor redondo, delicioso! Além dos vinhos, degustamos 3 queijos (yamandú, serrano e mandala), uma geleia e um salame de porco moura (sem aditivos).
Foto do evento
No mercado convencional, encontramos queijos ultraprocessados (como polenguinho, cheddar...) com listas de ingredientes que deixam os cabelos em pé. Faz muito sentido buscar por queijos mais artesanais, com boa lista de ingredientes (algo como leite, coalho, fermento e sal). Quanto aos embutidos, 98% (dados da minha cabeça!rs) do que encontramos à venda tem uma composição ruim, com adição de espessantes, açúcares industriais, realçadores de sabor, conservantes... por isso vale pena buscar pela charcutaria artesanal.
Produtores de alimentos e bebidas que tem o genuíno interesse em - dentro do possível - respeitar os animais e o ambiente e se dedicam a escolher a melhor matéria prima, extraindo dela todo seu potencial - sem a necessidade de incluir elementos (estranhos) para disfarçar amargor e/ou acidez e para realçar sabores de forma artificial - são artistas. Artistas que, além de garantirem uma excelente experiência sensorial para o consumidor final, contribuem para uma dieta mais saudável.
O intuito deste conteúdo é instigar a sua curiosidade sobre o que estamos de fato consumindo. É importante sair do lugar comum do "Uma taça de vinho por dia faz bem à saúde!" para pensar em qual vinho estamos falando. Qual a uva utilizada? Qual o percurso da uva? Como ele foi feito? Quais são os seus ingredientes? (...) Isso sem falar sobre orientações generalizadas e ultrapassadas em saúde...
Espero que este conteúdo seja útil. Compartilhe ele para aquela pessoa que, assim como eu :), adora um vinhozinho. Tim-tim!
Com carinho,
Nutricionista Júlia Lorenzon
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