Poderia, idealmente, dizer que sim. Mas a verdade é que cada organismo é único e com certeza algumas pessoas simplesmente tem um trânsito intestinal mais lento em comparação à outras. Faz mais sentido avaliar caso a caso e considerar fatores como: histórico de funcionamento intestinal, presença/ausência de doenças e/ou uso de medicações, histórico de alimentação (da barriga da mãe aos dias atuais), prática de exercícios e etc.
Um adulto com relato de "intestino preso" que diz que foi assim a vida inteira, que na infância precisou fazer lavagem intestinal hospitalar, claramente é diferente de um adulto que sempre teve um bom funcionamento intestinal, mas percebe piora nos últimos anos. Assim como uma gestante pode evoluir com um bom funcionamento intestinal no período e passar a apresentar piora na frequência evacuatória unica e exclusivamente por uma suplementação de ferro. Essa avaliação global precisa acontecer para que tenhamos uma percepção adequada do problema e expectativas reais ao iniciar uma intervenção que tenha como objetivo regularizar o intestino. Em todos os casos, mudanças positivas no estilo de vida (dieta, exercícios físicos, sono...) são necessárias.
Considera-se constipação intestinal uma frequência evacuatória inferior à 3x/semana por pelo menos 3 meses. Isso significa que uma frequência de 3x/semana pode ser considerada normal. Ainda que na maioria das vezes não seja a ideal.
Além da frequência de evacuação, é muito importante considerar o aspecto das fezes (consistência, formato e cor) e sinais e sintomas como: distensão abdominal, dor abdominal, excesso de gases, dor ao evacuar, sensação de não esvaziamento do instestino, fissura anal e etc. O ideal é ter fezes normais (tipo 3 ou 4 da escala) com cor marrom e não apresentar desconfortos antes, durante e após a evacuação.
Do ponto de vista nutricional, quando existe queixa de mau funcionamento intestinal ou quando isto é identificado independente da queixa, é essencial avaliar consumo de água e de alimentos fonte de fibras e fitoquímicos. O intestino precisa de água para hidratação do bolo fecal (incluindo fibras), fibras insolúveis para aumentar o movimento no intestino, fibras solúveis para dar volume às fezes e fitoquímicos para - junto das fibras - "alimentar" a microbiota intestinal, deixando-a mais saudável.
As fibras insolúveis podem ser encontradas nas cascas das frutas, nas folhosas, no farelo de trigo e no milho, por exemplo, já as solúveis estão presentes nos feijões, na aveia em flocos, na chia e na linhaça. Fitoquímicos são os corantes naturais encontrados nos vegetais; coisas como clorofila, licopeno e betacaroteno, por exemplo. Para acessá-los devemos ter uma alimentação rica em hortaliças e frutas coloridas, além de utilizar ervas, especiarias e chás.
A inclusão de alimentos probióticos (como kefir e kombucha, por exemplo) pode ser também interessante (além de saboroso). Suplementos de probióticos, fibras ou magnésio também podem ser úteis, mas é essencial que esta recomendação venha pelo nutricionista que acompanha, visto que podem apresentar alguns efeitos colaterais.
Para além da nutrição, a prática regular de exercícios físicos ajuda a movimentar os órgãos internos e boas noites de sono resultam em hormônios "em dia". Ambos contribuem para um bom funcionamento intestinal.
Aspectos emocionais e comportamentais como estresse crônico, vergonha de fazer cocô e má gestão do tempo também precisam ser observados, visto que podem dificultar as idas ao banheiro. Atividades terapêuticas (prática de respiratórios, atividades de lazer, trabalhos manuais...) e terapia são bem-vindas nestes casos.
Na minha prática clínica, recebo muitas pessoas acomodadas com um intestino preguiçoso. Relatos como "Fico 3 dias sem fazer cocô, é normal, já fiquei uma semana..." são relativamente frequentes. Na graaande maioria dos casos, quando há boa adesão ao tratamento, há melhorias na função intestinal (frequência, aspecto e cor das fezes e bem estar associado ao ato). Ter qualidade de vida passa também por isso. Intestino saudável = pessoa mais feliz. :)
Dica bônus: use um banquinho embaixo dos pés na hora de fazer cocô para ficar na posição de cocócoras - posição intuitiva, ainda hoje utilizada pelos indígenas - que auxilia na eliminação.
Com carinho,
Nutricionista Júlia Lorenzon
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